quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Pequeno diálogo antes do round 2

Voltava para o quarto escuro, que há instantes deixou para mergulhar em um copo de água. Ela ainda me mata... – pensou enquanto caminhava pelo corredor. Agora estava parado na porta. O ambiente era iluminado por uma luz naturalmente azulada que entrava em forma de finas e longas lâminas pela janela. A lua pedia pra ser vista, tocada, visitada, usada... um clarão mágico e misterioso, definitivamente. Não estou falando de lobisomens, vampiros ou bobagens do tipo. Noites em que a senhora lá em cima nos presenteia com tal espetáculo devem ser aproveitadas com uma boa bebida e, de preferência, com uma bela garota. Assim também pensava Domini. Rapaz esperto. Sabia o que devia ser feito com essa dupla maculada.
- Vem pra cama Dom...
Ele continuava estacionado na entrada do aposento e escutou essas palavras sussurradas dela, quase ronronando ela pedia por atenção. Boba. Ela não percebia que estava tendo a mais sincera e devota das formas de carinho que um homem pode lhe propiciar. Dom a comia com os olhos: estava de bruços na cama, com a cabeça delicadamente apoiada em suas mãos sobrepostas, uma perna totalmente esticada, à vontade, enquanto a outra, flexionada, fazia um ângulo reto, posição essa que transformava uma mulher qualquer digna de comparação com alguma obra de arte renascentista, ao menos para ele.
- Já disse hoje como gosto das suas pernas?
- Já Dom... para de falar merda e deita aqui em cima de mim caralho!
“Ainda não” – falou pra si mesmo. Percorria a vista pelas pernas exageradamente brancas dela. Uma caucasiana de verdade. Curtas, brancas e bem torneadas eram as pernas em questão. Sua vista deparou-se primeiramente com os pés muito bem cuidados. Pés bem cuidados era sinal de uma mulher meticulosa. Além do que elas normalmente já são. Obviamente. Continuando ele da voltas e mais voltas em suas poderosas cochas. “Se toda mulher tivesse essas pernas...”. A cena que maravilhava Domini era encerrada com um close onde apenas podiam-se ver as delicadas costas de sua amante sendo iluminada pela mãe lua.
- Vou ai com uma condição?
- Droga Dom! O que é que você quer? Garanto que já te dei tudo que tina pra te dar...
Gargalharam juntos enquanto ele aproximou-se e começou a tirar a única peça de roupa que ela usava: uma pequena calcinha vermelha.
- Pronto. Agora podemos fazer o que você quiser.
- É? Sério?
- Claro caralho! Desde quando falto com minha palavra?
- Ótimo! Então deita aqui do meu lado.
Ele assim o fez.
- Abra a boca.
Ordenou ela.
- Que merda você vai aprontar?
- Nada! Larga de ser desconfiado!
Meio a contra gosto ele fez o que lhe era pedido e no mesmo segundo ela modificou seu rosto acrescentando nele um enorme sorriso. Segurou os grandes e grossos lábios de Domini. Olhou com curiosidade e prazer para os seus dentes. Cada um. Fileira de cima e de baixo.
- Sabe uma das coisas que acho mais bonitas em você? Assim ...esteticamente falando.
- Achei que estava lá embaixo, entre as minhas pernas.
- Pois está enganado querido. São seus dentes. Poderia até afirmar que só transo contigo por causa dessa coleção maravilhosamente bela de dentes que você guarda aqui.
- OcÊ eeÈÉé ãlucã!
- Como? Não entendi.
Como ela entenderia! Estava com seus indicadores nos molares dele! As duas cabecinhas de dedo preenchendo perfeitamente os buraquinhos dos dentes.
- Você é maluca!
Domini agarrou os dedos invasores e pode se pronunciar e ser entendido.
- Tanta coisa pra ver em mim e você sente tesão pelos meus dentes?!
- Quem falou em tesão seu idiota! To falando de beleza nos detalhes. Os detalhes é que são importantes. Olha só esses caninos...
- Pera ai mulher! Tira esses dedos da minha boca!
Gargalharam em uníssono novamente.
- Você não encontrou nenhum detalhe em mim que te instigue? Que te faça querer ficar olhando por horas a fio pra mim?
Ela fez uma cara triste. Digna da atuação de uma atriz pornô barata. Graças a Deus nunca tentou nada na área das artes cênicas. Seria um desastre.
- Ta falando bobagem. Tava ali na porta te admirando. Me assusto toda vez que te vejo deitada. De como seu corpo é todo bem feito. Uma boneca de porcelana é o que você é.
- Eu que posso falar em susto. De como você parece ser mais de uma pessoa. Incrível como você é carinhoso quando quer. E de como é bruto com esse seu excesso de virilidade.
- Excesso? Você acha que eu tenho excesso de virilidade? Que diabos é isso mulher?
- Dom, quando você me agarra parece que ta segurando um animal feroz, quando me beija parece que ta desentupindo uma pia e quando a gente faz sexo eu saio daqui toda roxa! Cheia de hematomas! Parece que estávamos num ringue de boxe!
Domini não se conteve com as palavras dela e imediatamente a beijou. Não como um desentupidor de pia, como ela definira seu beijo, mais com toda a doçura e afeto que lhe fosse possível reunir e passar em um único e simples beijo. Apenas o delicado, intenso, lento toque e atrito de lábios. O rapaz sabia como fazer as coisas.
Nunca a tinham beijado assim. Jamais tinha estado com um homem que conseguira fazer uma mulher sentir-se mulher. De todas as formas possíveis. O manejo dele com as particularidades do sexo feminino era um prisma: Domini é uno, ao mesmo tempo em que pode ser vários. Com as ninfomaníacas era uma maquina de prazeres. Todos eles. Um exímio conhecedor da arte de amar o corpo do sexo oposto. Conhecia-os como se fosse o seu. Em contradição com as sutilezas românticas que operava para com as suas amantes mais carentes. E, como é tão comum às filhas de Eva, essas características se permutam, muitas e muitas vezes, dentro de uma mesma mulher em questão até de segundos. Assim os homens vivem a repetir “vai entender essas mulheres?!”.
Pois digo: Dom entendia. Quando se deu conta ele já estava rodeado de amantes. Velhas, novas, lindas de morrer e outras nem tanto. Ricas, humildes. Boas de cama ou não – com relação a essas últimas ele fazia questão de fazer algo para reverter esse triste estado. Domini tinha assim um dom. Passou a analisá-lo, tendo em vista que sua sintonia com as senhoras e senhoritas o intrigava, e a praticar o seu uso, a fim de aperfeiçoá-lo, já que, para ele, “Mulher é coisa linda de Deus”.
- Adoro essa música.
Era Love is a losing game. Levantou-se, foi até o computador logo ali ao lado da cama e elevou o volume da música.
- Cara tu gosta mesmo dessa inglesa maluca?
- Gosto. Algum problema?
- Well...eu não gosto não. Mais admito que essa música ai, essa ai, é muito bonita.
- Essa música é tristinha. Assim como você antes de nos conhecermos.
- É verdade. Hoje você me faz feliz.
- Acredito que não há satisfação maior para um homem, com os meus objetivos, do que ouvir você falar isso.
- Como assim “meus objetivos”?
- Fazer vocês, digo, você feliz!
-Dom...dom...olha lá em!
Novamente deram risadas. Novamente beijaram-se. Tomaram o corpo do outro para si. Depois divagaram devagar mais uma vez. Sobre a vida, o tal do amor, o cara chamado sexo, as belas peças desse divertido jogo, quais sejam, respectivamente, o homem, a mulher e a vida.

2 comentários:

  1. esse teu narrador é muito peba...
    faz lembrar realmente os protótipos de romance que a ananda lê hahaha.
    ele quebra todo o tesão do jogo.

    ResponderExcluir

Pode ser a maior das bobagens ou uma idéia brilhante. Quero saber o que você pensa.