segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

"Não existe O amor"

Sentia-se mal e tinha absoluta certeza que o álcool ingerido na noite passada não encontrou seu lugar no organismo durante o quase sono que teve. Explicou isso para a matriarca e ela ao invés de tomar como desculpa fez disso mais um motivo para encontra - lá o mais rápido possível, assim poderia cuidar de seu rebento, ou, como ela gostava de chamá-lo no momento em que ele não estava por perto, “aquele vagabundo”.

 

“Lá vamos nós”. Esperava o ônibus que o iria levar até o estado vizinho e olhava para os lados. Não pode não perceber o velinho ao seu lado, um senhor de 60 e muitos, cabelos ralos e grisalhos, pequeno, franzino, pele dourada pelo sol, mãos calejadas com unhas que já pediam para serem cortadas faz tempo, roupas simples e sulcos no rosto que lhe atestavam o sofrimento de homem da labuta rural.  O velhote estava mirando, não há outro termo, MIRANDO a bunda de uma jovem senhora logo a nossa frente, esperando, muito provavelmente a mesma condução que o nosso amigo bebum e o velho aguardavam. O que chamou realmente a atenção do jovemzinho foi a expressão de cachorro com fome do coitado do vovô: a boca aberta, mostrando a ponta de seus poucos dentes, quase babando.Tenha em mente a imagem de um cachorro em frente aquelas máquinas que fazem frango assado. Algo assim. Sua vontade era de delicadamente, com o dedo indicador, levantar o queixo do tiozão para o lugar de origem.

 

O ônibus aproxima-se. Confusão. Choro de crianças, empurrões, ambulantes gritando preços, galinhas correndo, animais, pessoas e bichos parecidos com gente embarcam todos. Lá dentro, para a infelicidade de nosso aventureiro, ele acaba ficando de pé. “Não é longe, mas estou tão morto...”.  Descansa a mochila no chão, escorna-se em uma poltrona alheia e se segura onde pode.

 

Depois de mais uns minutos agonizando e pedindo a morte nosso “vagabundo” encontra uma coisa para a sua distração. Sentado na poltrona logo em frente, do outro lado do ônibus, estava o vovô babão tarado e no assento ao lado a senhora-alvo. A tia em questão vestia uma blusa de propaganda política, havainas, aquela calça que se usa para fazer caminhadas, tinha cabelo castanho escuro e uns 40 e poucos de idade, contudo, com aquele ar envelhecido que a vida de necessidades e preocupações adicionam as mulheres, ficava no final parecendo que já estava na casa dos 50.

 

“Velho esperto da porra!”. Passou a observar, com o devido cuidado de não invadir a privacidade dos dois, cada movimento, cada olhar do velho. Nada acontecia até que com já vários quilômetros distantes do ponto de partida o nosso vovozão tarado vira a face bruscamente e assim de primeira chuta: Ei, que vir morar comigo ?

 

“Eu não tenho essa coragem”. Não sabia se começava a rir ou se admirava o velho. Não sabia se começa a ter devaneios de como o amor é lindo ou coletar mais um exemplo de que homem sem sexo fica sem capacidade de raciocínio. Inquietou-se, já que não era possível escutar mais nada depois que nosso herói proferiu aquelas palavras. Seguida delas veio um sonoro “hum!” da tia e uma guinada brusca de cabeça para o lado contrário ao do velho. Depois disso apenas alguns sussurros e interjeições. Na primeira parada confusão novamente. Garotinhas querendo ir ao banheiro, pessoas descendo do ônibus e outras subindo, ambulantes vendendo porcarias pelas janelas. “OLHA A TANGERINA! DOCINHA, DOCINHA”. O velho compra um saco com as frutas, abre e oferece a tia-alvo ao seu lado. Bom jeito de puxar uma conversa, não é ?

 

Desce do transporte e leva consigo as imagens vivas na mente. Do tio, da senhora, das tangerinas. Fica confuso, e maravilhado, de como pode haver tantas e tão variadas formas de relacionamentos entre dois seres humanos.Percebe-se chateado pela atenção demasiada que damos ao amor e suas variantes. “Como não discutimos sobre todas as outras formas de envolvimentos pessoais ? Todas tão únicas e interessantes...”. Chega à conclusão de que na grande maioria dos casos em que nos referimos como sendo amor, sempre se trata de alguma outra coisa, ainda não revelada pela verdade humana.

 

3 comentários:

  1. Se perguntar o que é o amor pra mim
    Não sei responder
    Não sei explicar
    Mas sei que o amor nasceu dentro de mim
    Me fez renascer

    E ás vezes é um cansar de ficar sozinho...
    tem o gosto de tangerina e como tal, nem sempre doce, nem sempe azedo...

    Enfim...VAI SABER...MAS diante de TANTAS possibilidades pro amor, como dizer que NÃO EXISTE O AMOR???

    Pena que cada vez menos se saiba quando o EU TE AMO é sincero, ou quando é apenas uma maneira de dizer "não quero ficar só", "quero transar com vc", "quero me dar bem com vc que é famoso/rico"

    Enfim...

    Nossa...assim eu QUEBRO a MURINGA de tanto pensar no assunto......rsrs

    Bjos moço

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. vou dizer baixinho que é segredo: - o amor existe sim, é que não vende no mercadinho da esquina!!(rs)

    Muito bom o conto... e continue a cumprir as promessas pra 2009!!

    beijos^^

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